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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Loop


- Ei, posso usar teu cinzeiro?
- Pega aí.
- Ultimamente eu tenho fumado demais, sabe com é: casos fracassados, emprego de merda, morando sozinha...
- Sei.
- Olha só, eu ia me sentar naquela outra mesa ali. Tu te importa se eu ficar aqui, contigo?
- Eu não acho uma boa idéia, mas sinta-se à vontade.
- Por que tu não acha boa idéia?- perguntou ela, já se sentando.
- Porque eu não te conheço, e mesmo assim com o pouco que tu já disse, eu pude saber o suficiente.
- Como assim?!
- "Casos fracassados": isso quer dizer que tu foi abandonada por eles. Para ser largada por tanto cara, coisa boa não é.
- Pode ser o contrário. - disse ela, bebericando a cerveja e manchando a borda do copo com batom.
- Pior ainda. Não estou minimamente interessado em ser atirado por aí, a qualquer momento. E morando sozinha, já deve ter enlouquecido. Eu não tenho mais fibra pra aguentar mais uma louca.
- Do jeito que tu fala, parece que sou sempre a culpada.
- Hahaha! Não sei lidar com pessoas. Prefiro ficar sozinho.
- Mas eu gostei da tua sinceridade. É melhor assim.
- Não tenho parâmetros de comparação. Nunca fui diferente disso pra poder dizer se é melhor ou pior.
Ele acende outro cigarro e pede mais uma cerveja. Ela o olha fixamente e diz:
- É melhor eu ir pra outra mesa, então...
- Também acho.
- Mas eu gostei de conversar contigo, apesar de tudo.
- Eu já vi o suficiente. Sei que se ficássemos juntos, é certo que eu iria me fuder. Prefiro não te conhecer e nem saber teu nome.
Ela se levanta e sai, no momento em que o garçom traz a cerveja, e este comenta:

- Cara, quase toda a vez que tu vem aqui eu vejo esta mesma cena se repetindo. E é sempre a mesma mina!
Ele não diz nada.
Acaba com a cerveja.
Paga a conta.
Vai embora.
Chega em casa.
Senta no sofá.
E morre.
Como tem feito todo dia, aliás.

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