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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Espetáculo

 10:36. Eu detesto chegar em casa de manhã, ainda mais numa segunda-feira. Fui ao puteiro ontem. É. Fazia tempo que eu não explodia a cabeça do meu pau dentro de uma buceta. E cheguei incólume, sem arranjar nenhuma confusão, talvez por causa da
cocaína, que me deixa mais pragmático e sóbrio, o problema é a cartilagem do meu nariz, que já anda toda esgualepada. Tem gente que usa cocaína em supositório, para evitar esse tipo de coisa. Não faz meu estilo. Não mesmo.

 Não sou o genro que todos os pais gostariam de ter, e ser um sujeito exemplar não está na minha lista de início de ano. Essa lista sequer existe, na verdade. Sou um desajustado, eu sei, não me enquadro nos padrões da sociedade, seja lá qual for esse padrão. Também não me orgulho do que tenho feito, ou do que farei depois disso.
 É isso aí. O Espetáculo da Decadência, terminando seu 1º ato. As cortinas se fecham lentamente.
 Clap, clap, clap, clap...

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Expresso

 -Agora ninguém sabe onde estou, -disse-me ele, enquanto aguardávamos sentados num banco pelo ônibus -nem conseguirá falar comigo ao telefone, ele estará desligado, ao menos para aqueles que quero. Só falarei com quem eu quiser. Encontrarei quem eu quiser. Isso tudo porque cansei, entende? As pessoas me sugam e não sobra muita coisa. Não vá pensar que eu seja esnobe, arrogante ou me achando superior ao ignorar a todos, mas é que não tenho nada a oferecer, por enquanto. Eu não devo satisfações nem explicações de natureza alguma. Agora ninguém sabe onde estou. Ninguém. E é isso que eu chamo de liberdade.

 Eu desconhecia aquele sujeito, nunca o havia visto na vida e tampouco sabia porque começara a falar tudo aquilo comigo. Seus olhos eram tristes e apertava de vez em quando o olho esquerdo, como se sentisse dor de cabeça ou algo parecido. Cheirava a bebida e acendia um cigarro atrás do outro, sua mão tremia.
 Quis perguntar a ele o que o havia deixado naquele estado, mas fiquei em silêncio. Embora ele me parecesse confuso e perturbado, senti que suas palavras eram verdadeiras e decididas. De repente ele puxa um caderninho do bolso do paletó e começa a escrever alguma coisa. Depois pára e fica com uma expressão vazia no rosto, parecendo ter esquecido do que ia escrever ou perdido o ímpeto, e muda para uma cara de dor. Eu não poderia ajudá-lo, e temia que ninguém pudesse fazê-lo.
 Então avistei meu ônibus, despedi-me dele e subi no veículo. Lá dentro, através da janela, vi-o ainda sentado, olhando para o nada.
 Talvez seu ônibus nunca viesse.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Passeio pela Rua da Barca

 Cocktail de fermentado de cana com extrato de gengibre e carvalho. Parecia bom. Comprei também dois pacotes de bolacha salgada e dois maços de cigarro. No curto período em que andei por aquela maldita rua (lixeira a céu aberto) eu me lembrei que haviam alguns poemas num dos meus blogs que estavam programados para serem publicados na terça-feira (grande merda).
 A noite passada foi terrível. Bebi tanto que esqueci onde estava, acabei faltando com meus amigos e ainda por cima caí de cara no chão, entortando um pouco mais o meu nariz.

 A insônia voltou com tudo (eu não disse "Sônia", e mesmo se fosse ela, seria um desastre igual). E isso vem a calhar com o título deste blog. A insônia é hoje um dos meus hunos, não consigo lidar com ela, detê-la, retê-la. Os remédios ajudam um pouco, mas acabam criando uma dependência no infeliz do insone. Outro dos meus hunos são as pessoas. Nunca gostei de multidões e chego a suar gelado, fazendo um esforço titânico pra suportar o troço, mas há lugares específicos onde me sinto bem, mesmo que lotados. Para o meu azar, a maioria deles são bares.

 O sol já estava no horizonte. Dobro a rua e vejo um cusco sarnento e rengo, todo fodido, que estava no outro lado da calçada. A gente se olha por um instante e depois seguimos, cada um, para sua vidinha miserável, ele entra na rua da direita e eu, na esquerda.
 Éramos iguais, e aqueles que assim o são jamais cruzam o caminho um do outro, andam em vias paralelas. E o cachorro sabia disso.
 Até mais do que eu.

sábado, 14 de julho de 2012

A lista invisível

 Alguma coisa foi perdida. De novo. Digo "de novo" justamente pelo fato de já ter escrito sobre isso antes.
Mas agora é um pouco diferente, perdeu-se algo aparentemente de maior importância (digo "perdeu-se" porque não sei se fui eu que perdi ou o quê), quase palpável. Desta vez eu estava prestes a descobrir, mas fui atrapalhado por conjeturas e pensamentos aleatórios. Talvez a noite, com suas criaturas endoidecidas e vivas tenha se transformado num cenário sem graça, com gente vazia em disputas de vaidade e de olhares de superioridade. Pode ser que ELES tenham perdido algo; em bares, mercados, no trabalho são todos iguais, com o mesmo rosto e com gestos e frases previsíveis.

 O problema do mundo são as pessoas e veja bem, estou nessa também, só que eu levo uma ligeira vantagem por saber disso. E sempre que algo é perdido, ganha-se outra coisa de igual valor, de acordo com a lei da troca equivalente. Corrijam-me caso eu esteja errado, posso estar falando um monte de asneiras, mas são asneiras sinceras e interessadas. Sim, estou preocupado. Comigo mesmo, é claro, temo que o grande problema seja eu. E neste exato momento sinto algo escapando de minhas mãos, tal qual um carrinho de supermercado lotado descendo ladeira abaixo.

 A lista de coisas perdidas está aumentando.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entrevista de emprego

 - Veja, - ele abaixa as calças e caga em cima da mesa - merda. Essa é a merda derivada de alguns risólis, salgadinhos e a cerveja que bebi ontem. Mas não fica por aí, essa bosta é a resposta para a tua pergunta, - veste as calças e senta novamente na cadeira - é a minha reação muito bem colocada, diga-se de passagem, àquela sujeito que me roubou a namorada, com uma verborréia decorada da wikipédia; essa merda também vai para ela, pro cafetão que me expulsou do puteiro, à tia suja do boteco que me chamou de alcoólatra, à revista "alternativa" que não quis meus textos e que publica gente muito pior do que eu, aos filhos da puta que por nada me espancaram na rua, etc.

 Não estou profundamente indignado, acontece que este bostalhão à nossa frente é só a minha reação, como eu disse, nada de mais. Ah, eu pensei melhor e não vou querer esta vaga, eu iria perder muito tempo pra ganhar tão pouco, não nasci pra isso, me desculpe, sou escritor. E este vosso sistema de hierarquias é repugnante, não me admira todas essas demissões e aqueles funcionários com cara de facínoras que encontrei no corredor. Bom, tenho que ir, preciso comprar papel higiênico e tomar um banho.

 Tenha mais sorte com o próximo entrevistado.